Nos dias de hoje, viver sem exposição ao estresse é praticamente impossível. O estresse crônico afeta a nossa saúde de várias maneiras, e infelizmente às vezes não temos controlar situações estressantes, mas é crucial tentar identificar as causas do estresse e gerenciá-lo sempre quanto possível - porque sabemos que o estresse pode ser gatilho para o desenvolvimento, manifestação e perpetuação de inúmeras doenças autoimunes.
O estresse é danoso por várias razões e isso está fortemente fundamentado cientificamente. Afeta a nossa saúde mental e relacionamentos, e pode causar o desenvolvimento de outros problemas físicos, e trazer outras consequências como o desenvolvimento de síndrome metabólica (a combinação de obesidade, resistência à insulina e pressão alta), desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), ativação do sistema nervoso simpático, distúrbios do sono, inflamação sistêmica, funções imunológicas prejudicadas (e por isso, desenvolvimento de doenças autoimunes), coagulação sanguínea, aumento do apetite e outros problemas!
Mas o que é o estresse e porquê ele afeta o nosso corpo?
O estresse resumidamente falando, é uma resposta do corpo a um agente estressor. Essa resposta envolve a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenocortical (eixo HPA), que é responsável pela resposta de luta ou fuga, que é como o corpo responde ao agente estressor.
O hipotálamo recebe os sinais do hipocampo, a região do cérebro que reúne informações de todos os sentidos e percebe o “perigo” quando o alarme é soado. Então ele libera um hormônio chamado hormônio liberador de corticotrofina, que sinaliza para a hipófise liberar um hormônio chamado adrenocorticotrófico - que manda um sinal para as glândulas supra-renais para secretar o cortisol (o hormônio do estresse!) e as catecolaminas (adrenalina).
O cortisol como sabemos, influencia muitas funções no nosso corpo, incluindo o controle do nosso metabolismo, afetando por exemplo a resistência à insulina, o sistema imunológico e controlando até o fluxo sanguíneo.
Ele também dá um retorno para a hipófise e hipotálamo, dizendo que “já recebemos o sinal de estresse estamos lidando com isso”- e quando o estresse diminui ou pára, esse sinal também é enviado para o eixo hipotálamo-hipofise-adrenocortical (HPA) - que é desativado. E isso é um mecanismo importante.
Se estamos sempre estressados, o eixo HPA está constantemente ativado - e as funções essenciais do corpo como regular o sistema imunológico por exemplo, ficam suprimidas pelo cortisol alto.
Situações de estresse contínuo têm consequências terríveis para o sistema imunológico, especialmente para as pessoas que têm doenças autoimunes, como vamos ver mais adiante.
Os agentes estressores podem ser classificados como:
Psicológico (traumas, problemas familiares, prazos no trabalho, depressão etc.)
Físico (lesão, treino físico exagerado, sedentarismo, sono prejudicado, temperaturas ambientais extremas, etc)
Sensorial (ruídos altos, luzes muito brilhantes, superlotação de ambiente, etc.)
Químico (álcool, drogas, alérgenos, tabaco, etc.)
O estresse crônico ainda pode ter um nível baixo, mas constante, como por exemplo ter que lidar com doenças.
Mas o que o estresse tem a ver com as doenças autoimunes?
Bem, o estresse crônico que não é gerenciado aumenta o risco de depressão e ansiedade, obesidade, doenças cardiovasculares, dores de cabeça, problemas digestivos, infecções e outras condições de saúde. Isso porque o cortisol e outros hormônios adrenais tem um grande impacto na função imunológica.
O estresse também influencia o nosso comportamento alimentar - uma vez que desperta o desejo por comidas ricas em energia, pelo aumento do apetite, o que nos coloca mais vulneráveis a vícios alimentares (geralmente por alimentos inflamatórios ao corpo).
Esse estresse que afeta o sistema imunológico, acaba deixando o corpo mais suscetível a inflamações, que acabam por sua vez, gerando doenças crônicas - porque acaba "inundando" o corpo com radicais livres, que se não controlados, podem ser extremamente danosos.
E é aí que tudo se conecta: um corpo cronicamente estressado tem mais propensão a inflamações - e aliado à uma grande quantidade de radicais livres, muitas vezes deficiências nutricionais (ou insuficiencia de alguns nutrientes), ambiente e genética, pode desencadear doenças autoimunes, ou perpetuar os sintomas de doenças autoimunes.
Estresse, espécies reativas, radicais livres e doenças autoimunes - a conexão
Voltemos a falar de radicais livres, que são também geradas pelo estresse. Eles fazem parte do que se chama de espécies reativas, que são átomos, moléculas ou íons derivados do oxigênio que possam alta reatividade. Elas possuem algumas classes diferentes, e são basicamente divididas em dois grandes grupos: radicais livres e compostos não radicalares.
Radicais livres e espécies reativas de oxigênio (EROs) são produzidos naturalmente no corpo, e são produto de processos metabólicos naturais. São moléculas altamente instáveis que se acumulam no corpo de várias maneiras.
Outros fatores como estresse agudo e crônico, exposição a produtos químicos tóxicos, como pesticidas e poluição do ar, tabaco, álcool, comidas fritas e outros hábitos contribuem para a produção de radicais livres, sendo que os fatores que mais aceleram a sua produção são estilo de vida e estresse crônico [1].
O grande problema de se ter muitos radicais livres e espécies reativas de oxigênio no corpo, é que além de contribuir para o envelhecimento do corpo, contribui para o dano oxidativo no corpo: e isto contribui para o aparecimento de doenças. Vários estudos sugeriram que este estresse oxidativo poderia ser um fator de risco especialmente para doenças autoimunes [2].
Esses radicais livres podem ser “desativados” por um sistema de defesa antioxidante que quebra a reação em cadeia. Para que isso aconteça, é necessária a ação de antioxidantes, que fornecem um segundo elétron para os radicais livres, tornando-os mais “estáveis”, ou quebram estes radicais completamente, anulando sua ação.
Outros antioxidantes atuam aumentando a atividade de outros antioxidantes no corpo.
Em condições celulares normais, há um equilíbrio entre a produção de radicais livres e sua neutralização pelos sistemas antioxidantes do corpo.
O problema acontece quando temos muitos radicais livres sendo produzidos e poucos antioxidantes disponíveis no corpo, ou quando temos menos capacidade antioxidante, como veremos mais adiante.
Durante uma resposta imune, há um aumento na produção de radicais livres, o que pode resultar em estresse oxidativo (desequilibrando a relação antioxidante-oxidante), provocando danos biológicos.
Grande parte dos danos na doença autoimune pode estar ligada aos danos dos radicais livres nas membranas e tecidos celulares.
É demonstrado em várias pesquisas que pessoas com doenças autoimunes têm menos capacidade antioxidante. Os danos dos radicais livres e o estresse oxidativo também desempenham um papel importante na patogênese e nos sintomas clínicos em pacientes com certas doenças autoimunes, como Lúpus [3].
Outros estudos revelam que o equilíbrio entre oxidantes e antioxidantes é prejudicado em pacientes com doenças autoimunes, principalmente lúpus, e o consumo de antioxidantes como vitamina E, ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA) pode ser eficaz na redução dos sintomas da doença [4].
Na Artrite Reumatóide, por exemplo, o antioxidante vitamina E é deficiente em 50% a 60% dos pacientes que sofrem desta doença, e um estudo publicado no Bosnian Journal of Basic Medical Sciences, descobriu que pacientes com esclerose múltipla têm uma capacidade antioxidante significativamente menor em comparação com indivíduos de controle.
Os portadores de doenças autoimunes não só tem mais propensão ao estresse e produção de radicais livres, como também têm dificuldade em equilibrar substâncias oxidantes e antioxidantes, e por isso é importante que estas pessoas tenham não somente uma alimentação anti-inflamatória, mas também antioxidante.
O consumo de alimentos antioxidantes desempenham um papel importante na doença autoimune, porque mesmo que se evite alimentos inflamatórios, ainda existe este outro aspecto, em que o equilíbrio de antioxidantes e oxidantes é prejudicado em pessoas com doenças autoimunes - e isto pode contribuir para inflamação e impedir que se experimente redução dos sintomas.
O que são antioxidantes e onde em que alimentos se encontram
Antioxidantes são substâncias que podem prevenir ou retardar os danos às células causados pelos radicais livres. Muitas são chamados de “limpadores de radicais livres”, e podem ser endógenos (produzidos pelo corpo) e exógenos (externos, como vindos de alimentos e suplementos).
Os antioxidantes podem ser divididos em dois grandes grupos: os antioxidantes que neutralizam radicais livres (que são responsáveis pela maior parte da atividade antioxidante no corpo) e antioxidantes horméticos (que funcionam aumentando a atividade antioxidante de outros antioxidantes).
Estes antioxidantes trabalham juntos, e por isso, uma alimentação variada em qualidade de alimentos permite a ingestão e acesso a todos estes componentes.
Uma alimentação rica em antioxidantes é basicamente simples e se concentra em:
Frutas
Legumes
Verduras, especialmente folhosos
Alimentos de cores vibrante como amarelo/laranja (abóboras, batata-doce, cenouras, etc), vermelho (amoras, tomate, morango, melancia, repolho roxo, etc.), roxo (blueberry, blackberry, etc.)
Feijões
Nozes
Chocolate amargo
Alimentos ricos em Omega3 (azeite de oliva, óleo de peixe, sementes de linhaça, semente de chia)
Alguns alimentos fornecem antioxidantes vegetais como resveratrol do vinho tinto, licopeno do tomate, taninos do chá verde
Quando pensamos em uma rotina alimentar centrada em alimentos antioxidantes, consideramos importante ter diversidade na alimentação - porque os alimentos trabalham em sinergia, o que é melhor que a suplementação (em que os diferentes produtos químicos se acumulam e podem não ter o mesmo efeito no corpo), como sugere um estudo [5].
Importante:
Embora exista muito ainda que estamos descobrindo sobre radicais livres, estresse e antioxidantes, sabemos que eles não podem “curar” os danos destes radicais livres. Existem entretanto, inúmeros estudos apontando para a eficácia dos antioxidantes que podem anular os efeitos dos radicais livres.
Além de uma alimentação antioxidante, é importante:
Gerenciar o estresse quando for possível
Estabelecer uma rotina diária pois isso ajuda a regular o sono (a melatonina é um antioxidante poderoso)
Reduzir exposição a toxinas e químicos
Evitar alimentos fritos, envelhecidos, com açúcar, ricos em Omega 6 e contendo álcool
Te vejo na próxima! Qualquer dúvida entre em contato comigo!
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